quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A SAGA DE ISABELA, a Mulher Mercante que apenas queria ser mãe

Bem, meninas, quero contar para vocês a história da Isabela. Ela hoje está com seu bebezinho em casa e como não teve muito tempo para escrever, me contou a sua saga. A história é longa, mas merece ser lida.


Muitas de vocês devem conhecê-la. As que não conhecem saberão o tipo de pessoa que é: meiga, amiga e sensível, mas forte e guerreira. Ela está disposta a lutar por seus direitos. Através da sua história quer motivar a todas para que nunca desistam e não caiam diante de um momento tão sublime: ser MÃE.


Em janeiro deste ano, Isabela descobriu que estava grávida. Quanta alegriaaaaaaaaa. Mas mal sabia ela o que vinha pela frente. Geralmente, quando se está grávida, espera-se que só venham alegrias, mas não foi bem assim que aconteceu. Como é normal, ela avisou imediatamente a empresa, mesmo estando em casa  repousando. Precisava comunicar que sua obstetra tinha solicitado afastamento de bordo devido às condições adversas que a embarcação teria e por se tratar de uma gravidez de certo risco.

Bom, que a embarcação não é ambiente para nenhuma gestante todas sabemos, não é? Independente de ser de risco ou não. A bordo não existe condição de se gerar uma vida! Mas vamos lá...

Após ter avisado a empresa, ela foi orientada para que enviasse um atestado médico para justificar sua ausência a bordo. E assim foi feito. Ela enviou um email para a empresa dizendo-se apta a trabalhar e exercer qualquer função que não fosse a bordo. A resposta foi: “Aguarde, estudaremos seu caso!”.

Quinze dias após a "brilhante" resposta e dias e dias estudando o caso, a melhor solução encontrada pela empresa foi que ela procurasse o INSS e entrasse com pedido de auxilio doença. Mesmo que todas nós saibamos que GRAVIDEZ NÃO É DOENÇA, ela seguiu a instrução da empresa, e, lógico, a previdência pública negou, alegando o que todas sabemos. Isabela foi orientada a procurar a empresa para fazer um acordo sobre seu caso.

Foi o que ela fez. Mandou um email para a empresa com os laudos da previdência. A resposta foi mais uma vez: “Aguarde, estamos estudando seu caso”. Passaram-se os dias e nenhum contato da empresa, nem telefone, nem email, nem carta. Nada, nada, nada...

Uma pausa e me pergunto: uma empresa tão grande como a NORSKAN não tem o setor de assistência social ou um RH?

Já era fim de março e nada foi feito. Aí veio a primeira surpresa: seu salário tinha sido depositado no incrível e absurdo valor de R$ 131. Isso mesmo. Pasmeeeeeeeem: cento e trinta e um reais.

Isabela ligou para a empresa para saber o motivo deste pagamento. Poderia ser um erro, não é? Mas não foi. A empresa alegou que foi descontado por ela não estar disponível para trabalhar. Lembrem-se: desde o primeiro email Isabela informou que estava totalmente à disposição da empresa. Só não poderia embarcar. Mas teria disponibilidade para trabalhar em estaleiros, escritórios etc.

No começo de abril, o senhor Silvio Goes, RH da referida empresa, entrou em contato com ela e fez as seguintes propostas: ou pedia uma licença não remunerada ficando em casa ou ia trabalhar em Macaé ganhando seu soldo básico, que girava em torno de R$ 2.700. Lógico que Isabela se revoltou:

“Achei um absurdo tudo isso. Primeiro, como é que eu posso ficar sem receber salário? Gestante, arrimo de família, precisando pagar as contas dentro de casa, minha mãe dependendo de mim e com um filho na barriga. Como iria sobreviver?”

Sem opção, Isabela aceitou trabalhar em Macaé, mas mesmo assim tentou negociar um salário diferenciado. Pelo menos o salário de quando estava desembarcada. Mas nenhum acordo foi feito. Nem mesmo a remarcação da passagem aérea que havia sido cancelada por ela não ter embarcado em fevereiro eles quiseram dar para que Isabela fosse para Macaé.

“Sem ter dinheiro, tive que pedir emprestado para pagar a remarcação da passagem aérea do Recife para o Rio, alimentação e locomoção do Rio para Macaé”.

Quando chegou ao Rio foi à sede da empresa e procurou o senhor Silvio Goes para que tentassem novamente chegar a algum acordo. Mais uma vez isso foi negado. Decidiu procurar o SINDMAR. Sabia que nessa hora sua força sozinha não iria resolver muita coisa.

“O Sindicato tentou entrar em acordo com a empresa, mas o Silvio Goes não aceitou nenhuma solicitação. Então, decidi lutar junto com o SINDMAR para resolver o meu problema e poder voltar a Recife para ter uma gravidez tranquila e ter meu filho junto com minha família”.

Chegando a Macaé, Isabela foi orientada a se hospedar no Hotel Lagos Copas, que, normalmente, hospeda os tripulantes da NORSKAN. Porém, quando chegou ao escritório da empresa, informaram que ela ficaria apenas dois dias no Lagos e que seria transferida para uma pousada. Bem, que mal tem não é? Hotel ou pousada o importante é ter onde ficar com dignidade para trabalhar. O problema é que a pousada para a qual ela foi mandada é algo difícil de acreditar. Com certeza, a pessoa que a encaminhou não sabe o que é uma grávida subir uma ladeira a pé. A pousada fica no alto de um morro. Até mesmo para pegar o ônibus para trabalhar ela tinha que se submeter a tamanho esforço que nem uma pessoa sem estar grávida teria facilidade em fazer. Mas ninguém dentro da empresa se preocupou com isso. Mesmo depois de Isabela ter reclamado.

Isabela então resolveu mais uma vez pedir intervenção do SINDMAR. Este a colocou em um hotel descente e condizente com sua situação de grávida até que a empresa tomasse tal atitude. Então, a NORSKAN resolveu trocá-la de hotel. Antes não fizesse, pois foi pior. Esse não era numa ladeira. O quarto, além de minúsculo, tinha cama de solteiro e ficava no segundo andar de um prediozinho sem elevador.

“Quando fui fazer o check-in, a pousada não sabia que eu estava grávida e me falaram que eu iria ficar em um quarto de solteiro no segundo andar. Era um quarto pequeno, não tinha nem como eu me locomover direito, além de não ter elevador. Como que a empresa não pensou em nada, que eu estava grávida, sem ter ninguém da minha família por perto? Como passar por tudo isso sozinha, sem ter nenhum apoio, apoio que teoricamente seria da empresa?”.

Quanto conforto que uma empresa como a NORSKAN poderia oferecer, hein?

Ela conseguiu ser transferida para um quarto no térreo, pensando que agora as coisas poderiam se acalmar. Foi trabalhar e, quando voltou, seu quarto estava aberto e tinham perdido as chaves. Argumentaram que era para limpeza, mas o quarto estava nas mesmas condições que ela havia deixado. Pelo menos na hora ela não percebeu se mexeram em alguma de suas coisas. Mas espera aí, que lugar decente é esse?

A NORSKAN não poderia transferí-la de imediato porque a pessoa responsável para tratar de tal assunto estaria na empresa somente na segunda feira; e era uma sexta. Mais uma vez o SINDMAR a retirou desse local imediatamente e a hospedou no hotel que estava anteriormente.

“Até hoje me pergunto o motivo da empresa ter me colocado em situações deste tipo. Será que a empresa não percebeu a situação em que eu me encontrava, gestante de cinco meses, tendo que ser transferida toda hora e carregando malas pesadas de lugar em lugar, me deixando nervosa, angustiada, porque estava longe de casa e da minha família?”

Um dia após tanta confusão, Isabela passou mal e não foi trabalhar. Ela foi levada para a emergência do Hospital de Macaé. Nesse mesmo dia, a NORSKAN resolveu mandá-la de volta para Recife e continuar pagando seu soldo básico, no valor de R$ 2.700 até o dia em que deu entrada na sua licença maternidade.



Agora, Isabela já deu a luz a um meninão lindooooooo. Está em casa cumprindo sua licença. Dia 5 de dezembro seu filhão completa 4 meses e então Isabela estará pronta para embarcar. Ela continua na mesma empresa e não pretende sair. Junto com o sindicato pretende lutar por todos os seus direitos que foram violados nesses meses e brigar pelas futuras grávidas para que elas não passem por isso.

“Não quero que ninguém passe pelo que passei, foi horrível. Agora, depois de tudo, é que tenho consciência de que precisamos lutar para ter leis que nos protejam. Sou uma cidadã, pago impostos e trabalho para o nosso país da mesma forma que os homens. Por que não tenho direito de ser mãe?”.


Por que não tenho direito de ser mãe?

4 comentários:

  1. oh olha Belinha ai,mas uma vez lutando com todos os seus direitos,nao podemos deixar isso acontecer!!! bjus
    otima reportagem

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  2. Todos os dias que eu me encontro lendo esse tipo de documentário, digo a Deus:"Senhor muito obrigada por ter me guardado dessas coisas!" Por que lembro que na minha época tive medo de passar por isso, pois fui pressionada um pouco sim.
    Fiquei preocupada com as meninas que viriam depois passar por essas situações e estou vendo agora mais uma vítima dessa injustiça, por que se as empresas não querem mulher com útero, por que então o governo nos colocou no mercado?
    Isso é revoltante.
    Se olharmos paras as fotos dessa colega, veremos um ato sagrado que Deus nos concedeu: Ser Mãe!!!
    Ana Paula Sanches Vale.

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  3. Bom dia,

    Nossa que situação horrível que você passou hein...
    Sinto muito por tudo o que aconteceu e espero que você tenha conseguido reaver tudo de volta.
    Eu estou na net tentando pesquisar mais informações a respeito, mas é muito dificíl achar alguma coisa.
    Pretendo ser mãe mas quero saber quais são os meus direitos. Minha empresa não me passou nada a respeito porque ela esta a 2 anos no Brasil, a unica informação que tenho é que eu não posso mais embarcar.
    Entrei em contato com o sindicato mas quem me atendeu disse que eu deveria trabalhar embarcada até o meu 8 mês de gestação, porque gravidez não é doença!!! Achei um absurdo logo no começo da conversa... Ou seja não adiantou muita coisa...
    Se por acaso você tiver alguma informação pesso a gentileza de me informar.
    Desde já agradeço,

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  4. Boa tarde Vanessa, Fiquei abismada com sua informação, qual sindicato te informou que você deveria estar embarcada? Por favor me encaminhe um email.
    mulheresmercantes@gmail.com

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