Conheci a Bruna na fila da Capitania dos Portos de Fortaleza. Ela estava fazendo matrícula na EFOMM, e acabou caindo na turma do meu irmão, hoje conhecido como Teixeira. Ela sempre teve muito interesse no setor e me mandou a mensagem a seguir:
"Primeiramente, minha estada na EFOMM foi toda baseada em não-escolhas. Não que isso signifique algo ruim, algo que eu deteste. Pelo contrário. Me apaixonei pela carreira. Não pelo que me disseram, mas pelo que estou aprendendo, conhecendo e vivendo.
Conheci a escola, ou pelo menos ouvi falar o nome dela, nas turmas especiais ITA-IME, no Colégio 7 de Setembro, onde estudei desde a alfabetização até o fim do ensino médio. Minha turma foi a primeira do C7S em relação a turmas especiais. E o motivo pelo qual me levou a participar de uma turma ITA-IME foi a busca pelo engrandecimento profissional. Decidi na oitava série, baseada em pesquisas e conversas, estudar e ir para o ITA. Terminei o terceiro ano com esse intuito. Foi quando saí do C7S e fui estudar no Colégio Ari de Sá, fazendo o cursinho, que comecei a modificar meus pensamentos.
Nesses três anos de turma ITA eu sempre escutei falar em EFOMM e até mesmo fazia suas provas como teste para o que eu queria. Mas nunca havia me interessado nem ao menos em pesquisar. Até que, no final do terceiro ano, uma amiga minha, que atualmente está para se formar, me falou sobre o curso. Me contou sobre as vantagens e desvantagens da carreira e sobre a escola. E também um grande amigo do meu pai, que tinha um filho no Ciaba. Ele me ajudou muito a conhecer a carreira e me apoiou em todos os aspectos, inclusive a convencer meus pais que seria bom para mim. Sou filha única e meus pais estavam relutantes em aceitar sua única filha trabalhando longe.
Então, me interessei e resolvi pesquisar. Quando isso aconteceu, eu vi despertar em mim uma vontade de conhecer esse mundo novo. Em como seria interessante trabalhar em meio essa natureza linda que é o mar, conhecendo pessoas novas e lugares novos e passando por experiências que só quem esta a bordo sabe. Dessa maneira decidi que eu queria ser Mercante.
Em 2008, eu fiz a prova e passei. Um dia antes da prova, fui visitar meu tio Aquilles, que estava internado num hospital. Eu estava muito orgulhosa em dizer que tinha saído o resultado da estadual (UECE) e que eu estava dentro. E ele me disse algo me marcou muito e eu tomei como destino. Disse que meu lugar não era lá. Era na EFOMM e que ele tinha certeza que próximo ano eu estaria lá.
No dia seguinte, no momento que eu saí da prova, eu soube que meu tio tinha piorado e que estava em coma. No segundo dia de prova, eu saí diretamente para o enterro. E lá eu jurei pra ele que eu ia fazer tudo que eu pudesse para ser a melhor profissional mercante que minhas forças me dessem.
"Você não deve escolher sua carreira simplesmente
porque ela é mais confortável e sim pela sua aptidão"
Finalmente, em 2009, entrei na escola. O meu primeiro ano foi muito difícil. Principalmente, por causa da escolha do curso, que foi uma situação de dúvidas para mim, pois a minha turma não pôde escolher o seu curso, dividido metade-metade.
No começo eu queria ser piloto, outra escolha mal-feita. Não estou dizendo isso porque o curso é ruim. Pelo contrário. É um curso muito bom, mas sim porque eu não pesquisei e me baseei em “objetivos tortos”, como muitos fazem. E decidem isso porque acham que o trabalho é mais tranquilo. Sabemos que nenhum dos dois é tranquilo. Pelo contrário. Qualquer cargo dentro de um navio requer bastante atenção e dedicação. Que é mais cômodo, mais confortável, tem mais “status”, talvez alguns até digam que sim, mas você não deve escolher sua carreira simplesmente porque ela é mais confortável e sim pela sua aptidão.
Hoje, eu como maquinista, no segundo ano de escola, digo que marcaram o X certo para mim, pois não vejo nenhuma aptidão minha para ser piloto e adoro de todo o meu coração ser maquinista. Com certeza, meu conforto está numa praça de máquinas, apesar de ter tido ideias contrárias a isso.
"Tenho alguns projetos para evitar que outros
não cometam os mesmos erros que eu cometi"
Portanto, tenho a certeza que muitos jovens que estão no primeiro ano enfrentam esse mesmo dilema que eu enfrentei. E que a falta de oficiais de máquinas no mercado se deve muito a uma maior informação em cima do curso de Náutica, ou seja, uma maior “propaganda” da carreira e, até mesmo, falta de informação sobre máquinas. E por isso, pessoas como eu só terão algum contato com máquinas já no curso. Dessa forma, acredito que se deva estimular os alunos do primeiro ano a conhecer a área. E este é um dos meus objetivos na escola.
Gosto muito de máquinas e ano que vem, como turma mais antiga, nós assumiremos o Grêmio de Alunos (SAVI) e eu assumirei o Grêmio de Máquinas. Tenho alguns projetos para evitar que outros não cometam os mesmos erros que eu cometi. De se basearem, em como eu falei mais acima, em “objetivos tortos”. Além de ideias para propor aos alunos, já no curso, a fim de se ter um maior tato com a máquina em si e com os conhecimentos necessários. E, com orgulho, eu digo que a realidade da falta de interesse de alunos em máquinas está se modificando. Atualmente, no primeiro ano, tem uma grande maioria de alunos querendo ser maquinista.
"Fiz muitas amizades e tenho uma turma
muito unida, principalmente nós, as mulheres"
Apesar de alguns contratempos normais, gosto de estar na escola e aprendo muito aqui em relação a muitos aspectos, tanto profissionalmente como pessoais. Fiz muitas amizades e tenho uma turma muito unida, principalmente nós, as mulheres. Estamos sempre buscando nos reunir e mantemos os laços de amizade acesos. Pois em um ambiente, vamos dizer ainda machista, que nós decidimos trabalhar, a nossa união não é só importante; é essencial. E, infelizmente, esse machismo começa aqui na escola, onde nós lutamos, principalmente com os homens da nossa turma para não acontecer discriminações em relação às mulheres. É notório que eles nos tratam bem melhor e com respeito que outros homens de outras turmas. Acredito que seja pela nossa união, tanto na relação mulher-mulher quanto na mulher-homem.
Enfim, no próximo ano, estarei me formando e eu sei que ainda terei muita água para enfrentar. Que estará vindo uma nova fase de aprendizado e que eu vou sair daqui com um pouco de conhecimento e que terei que aprender muito mais. Mas ainda não estou segura em relação aonde ir depois daqui. Sei que irei praticar em uma empresa, provavelmente fazendo cabotagem, mas quanto ao futuro depois de oficial, realmente não me decidi ainda. Estou pesquisando e aberta às opções e experiências. E a única pretensão que tenho para o futuro na minha carreira é que me dedicarei muito, como eu prometi a meu tio, para ser a melhor profissional possível.
E, sim, pretendo crescer e permanecer na vida mercante, e até quem sabe ser uma futura Chefe de Máquinas".