sexta-feira, 25 de março de 2011

Bate-papo via MSN - 1: Vanessa Oliveira, guerreira, vaidosa e apaixonada pela Marinha Mercante

Vanessa Oliveira é uma das meninas que faziam parte de uma turma mais antiga que a minha na escola. Ela passou, assim como eu, por uma mudança drástica: o fim do período de quatro anos de curso. Nessa conversa através do MSN, ela conta um pouco da sua trajetória até hoje na Marinha Mercante, onde tem a função de Imediata.

Vanessa: "Só trabalhei com excelentes profissionais"

Como você conheceu a Marinha Mercante?
No Colégio Militar. Meu pai foi transferido para a Fortaleza em 2009 quando entrei no Colégio. Assim tive conhecimento dos concursos militares.

Mas você tinha em mente outro curso ou pensava apenas na Marinha Mercante?
Sim, estava me preparando para fazer Odontologia, mas não cheguei a prestar vestibular. Em novembro de 2000 recebi o resultado da aprovação na EFOMM. Em janeiro seguinte, quando seria o vestibular da UFC, eu já estava no período de adaptação em Belém.

E na escola, como você optou por náutica?
Foi a última turma. Escolhi náutica por me identificar mesmo com a área, apesar de que, no primeiro ano, ainda seja muito superficial o conhecimento entre os dois cursos.

Você embarcou primeiro em que empresa? Foi para um estágio?
Embarquei na Aliança. Fiz estágio de 20 dias no navio Lili.

E como oficial? Qual foi sua primeira empresa?
Fiz um ano de estágio na Transpetro, no NT MARTA. Lá fui praticante, segunda oficial e primeira oficial.

Você teve alguma experiência ruim? Algum tipo de preconceito a bordo?

Não, graças a Deus só trabalhei com excelentes profissionais. Tenho o CMT Anchieta como um exemplo de profissional. Ele foi meu comandante durante todo meu período na Transpetro. Além do mais, ele é cearense.

E no setor de offshore, quando começou?
Vim para cá em novembro de 2009, quando já não dava mais para aguentar tanto tempo a bordo. O regime de embarque 4 x 2 era muito sacrificante

Imagino. Ainda mais quando não tinha rendição certa, né?
Isso mesmo.

Qual é mesmo a empresa em que você trabalha no momento?
Assim que sai da Transpetro vim para a Bos. Estou há dois anos na empresa. Entrei como oficial de quarto e hoje estou no meu segundo embarque de imediato.

Que legal. Qual é o barco?
Far Swift.

E trabalha só com brasileiros?
Misto. CMT irlandês e chefe norueguês. 

Só tem você de mulher?
Eu e uma piloto.

Como é a relação com os estrangeiros?
Tranquilo. Todos moram no Brasil. Mas ainda resistem em falar português. Só o CMT fala sem problemas.

Já que você está casada, pode falar sobre planos de filhos? Como vê isso?
Estou casada há um ano. Não planejamos ter filhos, por enquanto. Acho que atualmente para uma mulher na Marinha Mercante a decisão de ter um filho é um pouco complicada. É aqui que existe a indecisão: continuar na carreira ou ter uma família.

Mas a gente sabe de histórias de meninas que conseguiram voltar para bordo depois de terem filhos. Você acha que conseguiria?
Não sei dizer. Tem que estar na pele, sentir realmente o que é ser mãe.

Você fez o curso de CCB?
Ainda não.

Pretende chegar ao comando?
Sim, não tenho vontade de largar minha profissão tão cedo. Ainda não tenho planos para isso.

Tem mais gente da sua família na Marinha Mercante?
Não. Só eu mesmo.

Você está morando em Fortaleza, né?
Sim.

Já viajou para fora do país pela Transpetro?
Passei um mês na Argentina fazendo docagem. O navio que eu estava tinha uma rota fixa. Só fazia o nordeste.

O que gostaria de falar ou mostrar para os leitores do blog Mulheres Mercantes? Alguma dica?
Não sei onde se encaixa, mas você pode colocar que jamais deixei minha vaidade de lado por estar em um navio. Sempre que tenho um tempinho vou em terra e passo o dia no salão. Volto renovada.

Tem academia a bordo? Você malha?
Sim. Tento sempre me exercitar na academia, renovando CDs, equipamentos. Às vezes, a rotina fica um pouco puxada. Tirar plantão de meia-noite às 6 da manhã não é fácil. E depois ir para a academia não dá. Mas sempre que possível estou lá.

Algo mais a acrescentar?
Que também não é fácil uma mulher passar ordens para homens; ainda mais bem mais velhos. Mas o espírito de equipe e humildade eu consigo passar para eles.

Ajuda o fato de ser mulher, né? Nós temos mais jeito, mais sensibilidade.
Eles passam os conhecimentos deles para mim; e vice versa.

Muitooooooo obrigada, Vanessa. Sei que seu depoimento aqui no Blog ajudará muitas meninas que estão com dúvidas e mostrará a todos uma visão da profissão feita por  uma mulher mercante cheia de ideais e amor pela carreira. Valeu mesmo.

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