quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As alunas perguntam, as oficiais da Marinha Mercante respondem

Eu simplesmente adoreeeeeeeeeei fazer este post. Há alguns dias atrás recebi de uma aluna do CIAGA algumas dúvidas que ela teria sobre a profissão. Então contei com a ajuda de algumas amigas Oficiais para respondê-las. Espero que tenhamos conseguido tirar todas as dúvidas. Se não, mandem mais e mais e maaaaais perguntas. Será um prazer respondê-las.


Alunas do CIAGA

IMT Tereza responde as alunas
Quando uma mulher resolve parar de embarcar, quais os tipos de emprego que ela pode arranjar na área, mas em terra?
- Esse tipo de resposta é bastante subjetiva. Acho até que seria um pouco de grosseria de minha parte falar, mas a gente faz escola para embarcar. Porém, as coisas vão acontecendo e nossas vidas podem tomar rumos diferentes. Mas temos a oportunidade do quadro complementar da Marinha do Brasil, se tornando militar dessa forma. Têm os estaleiros, empresas Classificadoras, e as próprias empresas de navegação em seus escritórios. Bem como prestar concursos públicos. O segredo é não parar de estudar, pois as oportunidades vão surgindo.

No quesito vaidade, há alguma proibição a bordo?
- Bom, nas empresas nas quais trabalhei e trabalho hoje, a restrição existe apenas no caso de trabalho no convés e na máquina por questão de segurança. Não deve-se usar adornos, porém em relação a maquiagem não. E na superestrutura não há proibição. Mas levando-se em consideração que a bordo, mesmo nos horários de folga, nós estamos de prontidão, em caso de uma emergência, temos que agir rapidamente. Sendo assim, recomendo não usar. Deixe para o dia do desembarque. (rs)

A questão da escala sempre foi uma grande dúvida pra mim. É a empresa quem escolhe em que escala você vai trabalhar? Conseguir uma 28/28 ou 14/14 é muito difícil pra quem está começando?
- No momento da entrevista e/ou contratação, a empresa informará o regime de embarque que varia de acordo com cada uma. Cabe a pessoa decidi a que acha melhor para si. Em minha opinião, para quem está começando, a melhor escala é de navio mercante. Depois que você tiver um pouco mais de experiência, você passa para uma escala menor. Mas a bem da verdade é que isso depende da particularidade de cada um.

E quanto ao casamento e gravidez, gostaria de saber se depois de casadas e com filhos vocês continuam embarcando ou arranjaram um trabalho em terra?
- Algumas continuam embarcando, outras optaram por não embarcar mais, outras optaram trabalhar em terra. Mas a mulher tem que ter muita consciência de que os salários não são os mesmos. Bastante inferiores os de terra com os de bordo.

Quanto às empresas, quais as melhores de offshore que têm?
- Depende do objetivo de cada um. O que pode ser bom para alguns não tem importância para outros. Para quem está começando, qualquer empresa é boa. Depois de adquirir experiência e demonstrado profissionalismo, você vai vendo o que uma tem de melhor em relação as outras. Tem-se que levar vários fatores em consideração. Normalmente esses fatores só são enxergados com o tempo, ou melhor, depois que se embarca.

O que é necessário para trabalhar em plataformas? É realmente melhor do que trabalhar embarcado?
- Não tenho experiência para falar sobre isso. Pois nunca embarquei, mas os relatos que tive das pessoas que trabalharam e/ou trabalham é que o melhor, é o tempo de embarque.


Alunas do CIAGA
1ON Silvana responde as alunas
É verdade que ocorrem mais assédios sexuais da parte dos homens numa viagem mais longa, por exemplo, se optarmos pelo longo curso?
- A realidade que o assédio  pode ocorrer sim, mas o que vejo no dia-a-dia a bordo é que a maneira com que você age e se comporta influência muito na atitude dos homens de bordo com relação às mulheres. Quando fiz viagem de longo curso, o Comandante que eu trabalhava aconselhou que a gente usasse roupas mais folgadas e sem decote.

Para quem quer manter um contato melhor com família, e para quem quiser entrar na internet com mais frequência ou ter algum sinal no celular, se possível, existe algum tipo de navio melhor? Ou é melhor um offshore, plataforma, sei lá?
- Hoje em dia a comunicação é bem mais fácil. A maioria dos navios e rebocadores já tem internet o que ajuda muito na comunicação, tem wi-fi, o que possibilita estar sempre conectado. E todos os rebocadores que trabalhei têm telefones que podem receber chamadas, além de algumas de vocês terem a possibilidade de fazer ligações. Já quanto a sinal de celular vai depender mesmo do tipo de embarcação que você estiver trabalhando. Na cabotagem os navios sempre estarão indo ao porto ou os Rebocadores PSV que pelo menos uma vez na semana estão no porto.

Muitas mulheres têm um relacionamento com mercantes. Se não for, como vocês fazem para lidar com a distância?

- Relacionamento a distância é sempre complicado. Quando se namora um mercante fica mais fácil. A maior confusão é tentar embarcar junto ou pelo menos fazer com que as escalas de embarque coincidam ou pelo menos fique próximo. Embarcar com namorado é muito bom. Ter alguém que você realmente confie e possa contar a bordo é maravilhoso. Faz os dias passarem mais rápido. Você só tem que aprender a dividir trabalho do relacionamento porque senão vai ser mais complicado estar embarcado juntos do que lidar com a distância.


Alunas CIAGA
1OM Adriana Borges responde as alunas

Em que ano você se formou?
- Me formei em 2006 e terminei a praticagem em 2007.

Como foi a recepção dos maquinistas em geral? Foram preconceituosos? Fizeram alguma piadinha? Ensinaram as coisas durante a praticagem sem preconceito e de boa vontade? Como é agora o seu relacionamento com eles lá dentro? Você já chegou lá sabendo muita coisa ou meio "zerada"? Você sentiu algum tipo de "teste" dos homens de lá para saber se você era boa ou não, por machismo?
- No geral a recepção dos maquinistas foi boa. Por sorte, na minha praticagem, peguei um navio petroleiro velho (N/T Lages), mas com uma tripulação excelente. O chefe de máquinas me ajudou muito. Ensinava e não tinha preconceito algum. Mas teve um maquinista que se recusava a ensinar uma praticante maquinista mulher. Minha sorte é que embarquei com outro praticante maquinista homem. Aí pegava o bizu com ele. O que o outro maquinista preconceituoso passava para ele, ele passava para mim.

Mas com o tempo fui mostrando para que eu estava ali para trabalhar e fui conquistando a confiança dele. Mas também tinham outros maquinistas, marinheiro de máquinas e moço de máquinas que ajudavam. Não se iludam.  TODOS no navio têm muito a nos ensinar. Eram super atenciosos. Mas é certo que também temos que fazer nossa parte. Correr atrás, ler manuais, perguntar. Se tinha manobra nova, eu ficava depois do horário, no meu quarto de serviço para ver e aprender. Até porque na escola aprendemos o básico. Algumas vezes os equipamentos que estudamos na escola têm a tecnologia menos avançada; e a cada quarto de serviço aprendemos uma coisa nova. Cada embarque em um navio novo é uma nova praticagem. Os princípios dos equipamentos são os mesmos, mas nas manobras usamos alguma tecnologia que a gente ainda não tem conhecimento ou só ouviu falar.

Precisamos estudar sempre. Terminando a praticagem, voltei ao mesmo navio e fui ser maquinista,  junto com ele, o ex-preconceituoso (rs). E lá fiquei por dois anos. Mudei de empresa e fui para um PLSV. No início é sempre a mesma desconfiança. Dessa vez foi um pouco pior por ser barco estrangeiro. Eu era brasileira, maquinista e mulher. Desconfiança dobrada.

Muitas vezes, em atividades simples, como limpar um filtro de óleo, eu era vigiada para ver se estava fazendo certo. Fazia que não via e continuava meu trabalho. Mas isso nunca me incomodou. Sempre fiz minha parte, sempre fiz o meu melhor para mostrar a minha capacidade profissional. Se tinha dúvidas, perguntava a outro maquinista ou ao primeiro maquinista ou ao chefe. Sem a menor vergonha. E mais uma vez consegui conquistar a confiança e o respeito deles. Passei três anos nessa empresa. Hoje já sou 1OM e estou de subchefe em uma embarcação PSV. No meu primeiro embarque, a tripulação de máquinas se questionou: “uma mulher 1OM?”. Aí embarquei, fui testada alguns dias e deu tudo certo. Faço que não estou sabendo que estou sendo testada. Faço meu serviço e vou conquistando meu espaço. Hoje, com mais experiência, é mais fácil. Mas sempre temos que mostrar que somos capazes. Graças a Deus, apesar dos preconceitos, de alguns testes para saber se eu era capaz, nunca ocorreu desrespeito comigo. Depois que mostramos nossa capacidade tudo fica mais fácil.

Quero muito agradecer a parceria das Oficiais que se propuseram a ajudar e a aluna Keyla Regina que nos enviou as perguntas.

8 comentários:

  1. Tenho 17 anos e penso em entrar pra efomm, e quero uma dica, sugestão, sei lá, se eu não conseguir passar na prova vou continuar tentando até passar.

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  2. É dificil entrar na escola Naval? O que eu preciso estudar?

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  3. É dificil entrar na escola Naval? O que eu preciso estudar?

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  4. Tiram-se cursos em Portugal relacioandos com o Mar, e nao se consegue trabalho. Portugal é só MERDA:MERDA certificada de lixo. Vergonha , lixo de país.

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  5. Apesar de ter lido algumas respostas que poderiam responder as minhas duvidas, insisto em perguntar MULHERES EMBARCAM EM NAVIOS OU NÃO? Já li que sim,já li que não,preciso de certezas!!

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  6. O que temos que estudar? É muito difícil uma mulher ingressar na escola naval?

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  7. Oi, eu sei que não tem nada ver a minha pergunta mas a mulher que ingressa na Marinha do Brasil através da Escola Naval pode ter a mesma possibilidade de trabalhar embarcando num navio assim como às mulheres que estudam Náutica na Marinha Mercante? Agradeço desde já a atenção.

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